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Artigo do Leitor: SUPERMARINE SPITFIRE – AIRFIX 1/48

 

 

Mais um grande artigo do leitor do blog Tarcísio Moura, desta vez ele vem com um Spitfire, uma das minhas aeronaves preferidas! E olha ficou excelente, com a palavra Tarcísio Moura.


SUPERMARINE SPITFIRE MK I, Ia, IIa

WP_20160709_08_15_12_ProFabricante: Airfix

Escala: 1/48

Material: Plástico injetado, transparências, decalques para 3 versões.

História,

Provavelmente o avião mais famoso de toda a segunda guerra mundial, o Spitfire foi um dos raros exemplares a estar em serviço no início da guerra e termina-la ainda como uma caça de primeira linha, uma clara demonstração de seu incomparável e flexível projeto original. Nos primeiros anos da guerra foi o mais avançado avião dos aliados e teve um papel marcante durante a Batalha da Inglaterra, onde mostrou-se em condições de enfrentar em pé de igualdade o melhor que a até então aparentemente invencível força aérea alemã tinha a oferecer.

Sua agilidade e poder de fogo o tornaram um avião temido e respeitado por todos os adversários que combateu durante todo o conflito. A versão inicial de produção,  MK I, que entrou em serviço e, 1938 com o esquadrão 19, com uma hélice bipá e sem blindagens, foi sucedida pouco antes do conflito pela MK Ia, com hélice Rotol tripá de passo variável e melhores defesas para piloto e partes vitais.

Esta foi a versão que mais participou da famosa Batalha da Inglaterra e pela qual é sempre lembrada. Em início de 1941 entrou em produção o melhorado MK IIa, externamente similar ao MK I mas com um motor mais potente, spinner modificado e nova hélice. Esse trio representa o famoso caça nos e seus primórdios, quando fez toda a diferença num tempo em que parecia que nada podia deter a máquina de guerra alemã em termos de tecnologia.

O kit,

Há muitos anos que fabricantes deviam um modelo detalhado destas primeiras versões do venerável Spitfire, especialmente na escala 1/48. A última apareceu em meados dos anos 90, com o excelente kit da Tamiya, o MK Ia. A empresa inglesa Airfix, depois de muitos anos apenas relançando kits dos anos 60 e 70 de seu catálogo, de uns tempos para cá conseguiu algumas parcerias com fabricantes coreanos para uma nova  linha de kits com moldes mais avançados e preços bastante populares.

Este kit é um dos mais novos desta safra e de cara já demonstram uma enorme superioridade em relação aos seus antigos lançamentos: baixo relevo altamente cuidadoso, detalhamento interno que rivaliza os melhores kits do mercado e uma qualidade nos decalques que chega perto das grandes empresas de aftermarkets. O ponto negativo fica por conta das asas, grossas demais para a escala. Nada escandaloso, mas certamente superdetalhistas vão querer corrigir esta discrepância.

A capa da caixa é uma das mais emocionantes e bem feitas dos últimos anos, recuperando muito bem a ideia de fazer uma bela imagem que inspirasse a montagem: uma cena da Batalha da Inglaterra com o Spitfire derrubando um Me-109 num violento combate aéreo. Sem dúvida te faz querer pegar o kit! Dentro da caixa o que encontramos são três galhas repletas de peças, além de outra de transparências que dão possibilidades de construir todas as versões do caça inglês até o modelo Mk V. Muita coisa sobra aqui.

Este também é o único kit injetado por uma grande marca que tem possibilidade de montar um MK I original de 1938, com a hélice, transparências e outros detalhes diferentes dos que entrariam em combate a partir de 1939. Um achado para aqueles que querem fazer versões pouco comuns.

O nível de detalhamento do cockpit especialmente é extraordinário, superior a todos os outros kits desta escala, incluindo o da Tamiya. De fato é melhor do que o famoso modelo 1/32 da Hasegawa. Isso também é válido na reprodução das caixas do trem de aterrissagem. As transparências são, infelizmente, muito grossas para a escala, apesar de terem tido o cuidado de fazerem as 3 peças que compõe a capota em partes separadas e bem feitas. Eu também fiquei bastante surpreso com o baixo nível de injeção das rodas, muito inferior ao resto do avião e que dificultou bastante a pintura e mascaramento dos pneus.

Há peças separadas para todas as 3 versões apresentadas, que são bem especificas, além várias outras que, apesar de parecidas, não serão usadas. Portanto, cuidado na hora de montar para ver se escolheu as com numeração que correspondem corretamente para aquele que foi escolhida. É fácil se confundir aqui.

A construção,

A folha de instruções é mais ou menos como todas que conheço: um tanto vaga e com uma ordem de montagem mais ou menos lógica, com algumas sequências questionáveis. O que senti falta foi um mapa das galhas como é comum na maioria dos kits atuais, especialmente aquelas que mostram quais peças não entram na montagem do atual modelo, e são muitas.  

Não tive qualquer problema em montar o cockpit. O encaixes são corretos e a única coisa que acrescentei no avião foram os cintos de segurança da Eduard, que fizeram algo muito bom ficar ainda melhor. Seria interessante se a Airfix incluísse cintos de photoetched ou, pelos menos, decalques para suprir esta falta.

No entanto, quando fui colar as partes principais, como as duas partes da fuselagem e, especialmente, o crítico encontro asa/fuselagem, eu fiquei sinceramente decepcionado com a mediocridade destes encaixes. Foi necessário bastante putty , Super Bonder, lixas e muito trabalho para corrigir estas partes. Detalhes delicados e muito importantes acabaram inevitavelmente perdidos nestas correções.

As pontas das asas foram outro exemplo que deram bastante trabalho para ficarem apenas regulares. Uma pena mesmo. Tive também enorme trabalho  em conseguir acertar a combinação das duas metades das rodas.

Outra coisa eu me surpreendeu negativamente foi o fato da face interna das pernas do trem de pouso que se encontram com as rodas serem extremamente grossas e totalmente fora de escala. Tive que pegar uma lixa 220 e desbastar as superfície até dar um encaixe minimamente satisfatório.

Por alguma razão não vem no kit a tampa para o tanque de combustível principal que ficava logo á frente do cockpit. Só Havia uma depressão que preenchi usando putty.

Apesar da riqueza de detalhes internos, o modelo não vem com a porta de acesso a cabine para ficar aberta. Se você quiser expor esta parte você terá que cortar esta parte da fuselagem com um estilete conforme mostram as instruções. Esta parte do plástico é grossa e fora de escala. Felizmente, nesse caso, a Airfix inclui uma portinhola de acesso para colocar no lugar, esta sim bem correta.

Outra coisa que me desanimou um pouco na fase inicial de montagem foi a constatação que tanto as asas quanto o leme vertical estão um tanto grossos para esta escala. Superdetalhistas com certeza irão querer consertar estas falhas.

As partes transparentes são detalhadas e precisas, mas, novamente, um tanto grossas demais para a escala. Tanto assim que era impossível fazer a capota sendo recolhida para trás. Graças ao meu amigo, aluno e grande inventor Ramiro Carvalho, que fez uma cópia em vaccum-forming que permitiu, depois de lixada e pintada, ser colocada nessa posição aberta perfeitamente.

Pintura,

Inicialmente fiz um pre-shading em todos os relevos para destacar os painéis do kit, que são sua maior qualidade. Usei, como sempre, o preto foco da Tamiya para este trabalho, com o aerógrafo no mínimo.  Quanto às camuflagem, todos os Spítfires já vinham de fábrica pintados com um esquema padrão de duas cores superiores: nessa fase inicial eles eram Dark Earth e Dark Green. A pintura da face inferior, no entanto, é motivo de polêmica até hoje. Oficialmente  deveria ser adotada a Sky type S descrita como “Duck Egg Bluish Green” (uma descrição que ninguém entendeu direito), que substituiria em junho de 1940 o antigo esquema de metade branco e metade preto que era usado para facilitar a identificação pelas baterias antiaéreas inglesas. Mas a nova cor não conseguiu ser fabricada em quantidade suficiente por algum tempo e assim existem evidências que muitos aviões usavam cores tão diversas como azul celeste, Sky grey e Eau-de-Mil (todas encontradas nos estoques da RAF).

Na folha de instruções tanto o MK Ia quanto o MK IIa são mencionados como cor inferior um certo Beige  Green, algo que nunca ouvi falar.  Provavelmente um erro de avaliação da Airfix.

Na folha de decalques da Xtracolor cita Sky Blue como cor provável para a versão do Spitfire do esquadrão 66 que resolvi fazer, mas não consegui encontrar nenhuma tinta com o tom aceitável que correspondesse à figura das instruções. Acabei apelando para o oficial Sky S, uma aposta mais segura, pois o avião acabaria sendo pintado assim cedo ou tarde.  Apenas para diferenciar um pouco eu usei a tinta Sky da Tamiya, que é um pouquinho mais escura do que a da Gunze, para dar um tom meio de improviso, tão comum nesta fase da guerra.

Da mesma forma eu apliquei o Earth da Tamiya ao invés do Dark Earth da Gunze, que é um pouco mais claro, para dar uma aparência mais desgastada no avião. Já o Dark Green foi o mesmo de sempre, da Gunze. Não tive qualquer problemas com a pintura e usei máscaras de Parafilm M para fazer a camuflagem em geral e Tamiya masking tape para as partes retas.

Terminada a pintura e os decalques, fiz um wash com tinta Guache diluída para acentuar os painéis do kit. Um pouco de giz pastel foi usado para simular a fuligem saindo dos canos de escapamento do motor e das metralhadoras nas asas.

Decalques,

Como a folha da Xtracolor vinha com um número limitado de marcações, eu usei tantos decalques quanto possível do kit, incluindo-se aí todos os stencils. Surpreendentemente estes se mostraram bastante bons, precisos e razoavelmente fáceis de se aplicar. O lado negativo é que eles todos sofrem de uma tendência completa ao silvering e foi necessário usar muito amaciante de decalques para eliminar o problema.

Os decalques do kit também se mostraram um tanto opacos demais, mas isso foi resolvido facilmente com uma aplicação de verniz (no caso eu usei o Future Floor) que deu a eles o mesmo tom acetinado do restante do avião. Surpreendentemente eles se conformaram com facilidade aos painéis do kit depois de algumas aplicações de amaciante (usei o Mark Softer da Gunze).

Conclusão,

O meu exemplar representa o avião voado pelo comandante do esquadrão 66, o squadron leader (posto equivalente ao de major) Rupert “Lucky” Leigh, em setembro de 1940, baseado em Kenley,Gravesend, Grã Bretanha. Leigh foi creditado com o abate confirmado de dois aviões alemães durante a Batalha da Inglaterra. O cubo da hélice em vermelho e os numerais de série em cinza ao invés de preto eram anomalias comuns do esquadrão 66.

O kit da Airfix é uma contradição em si mesmo. De um lado os melhores detalhes em termos de relevo externo e o mais perfeito cockpit do Spitfire que eu já vi num kit injetado nesta escala. De outro, encaixes ruins em vários pontos e partes  grossas e fora de escala em outras. Ainda assim o resultado final ficou muito bom. As medidas do kit parecem corretas (fora as mencionadas anteriormente) e, uma vez completado, ele se mostra uma excelente réplica deste grande combatente da segunda guerra. Altamente recomendado para quem quer fazer um modelo 1/48 bem detalhado direto da caixa.

No entanto é necessário ter alguma experiência para lidar com os complicados encaixes em áreas críticas. A britânica Airfix evoluiu muito desde os anos 60, mas ainda está devendo melhorar as proporções de seus moldes para poder chegar ao ponto de se igualar aos grandes como Tamiya e Trumpeter.

Tarcísio B. Moura

 

Written by 

Editor do Blog SprueMaster

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6 Thoughts to “Artigo do Leitor: SUPERMARINE SPITFIRE – AIRFIX 1/48”

  1. Boris

    Raramente leio artigo de avaliação de kit tão bom!!!

    1. Que bom que gostou Boris!

      O Tarcísio é fera nisso!

      Plastiabraços!

    2. Tar

      OI, Boris:

      Muito obrigado! Tento fazer o melhor que posso para passar a experiência da montagem para os demais modelistas interessados nos kits que construí. Fico feliz de saber que meu trabalho é apreciado. Espero que tenha sido útil.

      Abraços

      Tarcísio

  2. Paulo Prado

    Lucas parabéns pelo post.
    Fico impressionado com o que o pessoal faz com a escala 1/72, mas tenho um medo danado da Airfix, sei lá nunca montei um kit novo, creio que por preconceito ou por lembranças amargas da marca no passado.
    O próprio Tarcísio falou ai que o kit em questão é “uma contradição em si mesmo”, mas a montagem dele ficou muito boa, as mãos do modelista fazem a diferença também né.
    Parabéns também ao Tarcísio pelo Review e a você pela publicação.

    1. Sim Paulo,

      Eu estou com um Lightning F2.A aqui da Airfix 1/72 e o kit realmente é sensacional, em breve vou montá-lo e colocar a experiência aqui,veja aqui no blog o episódio II de kit com cerveja que eu mostro ele.

      Plastiabraços

      1. Tarcísio Moura

        Oi, Paulo:

        Muito obrigado pelo comentário. Não sou grande plastimodelista, apra ser sincero, apenas esforçado. Eu entendo seu receio de mexer com esse kits da Airfix, mas a nova série está muito boa, e em termos de detalhes e dimensões, não há melhores kits quando se trata de aviões britânicos, principalmente. Eu mesmo pretendo pegar mais dois: o novo Hurricane e o Defiant assim que puder. Vale a pena investir: são kits bons e com um preço bem mais acessível do que outros fabricantes.

        Abraços!

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