Tudo o que você precisa saber sobre impressão 3D
Não é de hoje que se fala que a impressão 3D vai revolucionar o plastimodelismo, e já está revolucionando, alguns fabricantes de kits já estão enviando peças e acessórios impressos em 3D dentro das caixas dos kits, exemplos são a Eduard e a Special Hobby.
Imprimir em 3D não é algo simples, exige bastante conhecimento técnico e se o modelista deseja modelar as próprias peças, precisa estar preparado para ficar algumas horas (ou dias) na frente do computador estudando e modelando. Como já trabalho na área de tecnologia, me aventurar no mundo do 3D não seria um descanso para mim (risos), portanto faço parte dos modelistas que prefere comprar o material em resina ou já impresso 🙂
Sei que muitos modelistas se interessam pelo assunto e não sabem por onde começar, então, convidei meu amigo Frederico “ES1” Victor para escrever um pouco sobre o assunto. O Fred é plastimodelista e um dos proprietários da Loja Usina dos Kits, se você não conhece sugiro visitá-la!
Vamos lá artigo completíssimo do Fred!
Introdução
Quando meu amigo Lucas pediu para escrever uma matéria sobre esse assunto, confesso que fiquei muito surpreso, afinal de contas, não sou de longe um mestre em impressão 3D. Mesmo assim, acho que posso repassar minhas impressões sob o ponto de vista de um novato e, talvez aí seja o diferencial, como um plastimodelista (afinal de contas, o pessoal de sci-fi, board games, arquitetura e prototipação têm um olhar muito peculiar e distinto do nosso sobre o assunto). Talvez isso faltasse ser trazido ao debate. Hora de aprender mais!
Adaptação do modelista ao mundo 3D
Existe um grande motivador para nos puxar para fora da zona de conforto e nos enfiar em pleno movimento maker: queremos material único. Exclusividade.
Por mais que queiramos um modelo em resina de alto nível, há muito a se aprender até chegar um nível aceitável. Acervo pessoal.
Sabemos muito bem que um fabricante de kit produz uma gama muito específica de material, pois é necessário equilibrar um portfólio abrangente para puxar clientes, mas é necessário manter um tamanho específico da oferta de produto, pois moldes para kits injetados são caríssimos. A produção de peças em resina também esbarra no mesmo problema. Para piorar, alguns produtos simplesmente não são mercadologicamente interessantes a ponto de justificar o esforço produtivo de uma empresa.
Então, se você gosta de coisas diferentes, tem que recorrer ao scratchbuilding e modelagem até há pouco tempo. Mas aí vieram as impressoras 3D…
Agora, cada dono de impressora poderia criar o que quisesse, desde que tivesse um arquivo que descrevesse o objeto almejado e o material para imprimir.
Obviamente, como toda tecnologia nova, a adoção pelos “civis” não foi imediata, pois era muitíssimo caro ter uma impressora e material, sendo seu uso restrito à prototipação por parte de universidades e empresas dos mais distintos ramos.
Impressora Statasys, de 1989, foi a segunda tecnologia de impressão 3D criada, usando técnica FDM(Deposição de Material Fundido, em tradução direta). Criada e patenteada por Scott Crump, iria se popularizar mais rápido entre os hobbystas. Hoje, ninguém imaginaria usar uma impressora do tamanho de uma geladeira, com uma área útil proporcionalmente tão pequena. Fonte: TCTMagazine
Como sempre, o tempo passou e a tecnologia ficou muito mais acessível, evoluindo rapidamente. Hoje, qualquer um pode entrar nesse mundo com o devido planejamento.
Impressora
Supondo que você seja completamente “verde” nessa área (como eu mesmo era meses atrás), vamos dar um rápido briefing sobre os dois tipos principais de impressoras 3D no mercado:
- De filamento: geralmente é usada para produzir peças maiores, através de um bico aquecido que derrete o plástico que vem de uma bobina acoplada. Como não uso esse modelo, a explanação sobre elas ficará por aqui; e
- De resina: muito embora não possa produzir peças muito grandes, a delicadeza dos objetos criados por tais impressoras é excelente. Ela possui uma tela (interligada a um projetor de luz UV), um tanque de fundo transparente(que recebe a resina líquida) e uma mesa de impressão que se desloca verticalmente.
Geralmente, os projetistas de peças seguem a seguinte regra: impressora de filamento para peças estruturais e/ou muito grandes; impressora de resina para detalhes finos. Independentemente de que modelo adquira, a primeira coisa a fazer será montá-la e a nivelar à superfície sobre a qual ficará, evitando que desnivelamento e trepidações durante o processo de impressão.
Limpeza
Peças recém-impressas devem ser limpas para remover quaisquer traços de resina não curada que tenham sobrado. Há equipamentos especiais para isso e a limpeza das resinas 3D convencionais pode ser executada com álcool isopropílico, de cereais ou mesmo etanol(Deus abençoe o pró-álcool). Se não quiser ou puder comprar um tanque de limpeza, não há razão para pânico, pois uma cuba com álcool e uma escova de dentes velha e macia já dão conta do recado.
Em alguns casos, dá até para imprimir a cabine de limpeza e ou a de cura. Basta ter os projetos e um amigo que tenha uma impressora e seja mais experiente.
Cura
Não caia na besteira de comprar uma impressora e não ter como curar a peça. Conforme disse, a resina se solidifica com luz UV e embora nosso país seja agraciado com sol o ano todo praticamente, uma cabine de cura especial fará uma baita diferença no processo todo. Há modelos baratos na internet para quem desejar economizar ou cabines de limpeza e cura geminadas(mais caras, porém). Não preciso dizer que é bom ter óculos de proteção UV(que podem ser adquiridos em lojas de EPI) se for se expor constante e diretamente à fonte de luz ultra-violeta(no caso de lanternas especiais). Cure assim que a fase de limpeza da resina acabar.
Cabines de cura/limpeza mais hardcores sempre estão disponíveis. Basta desembolsar o suficiente.
Os desafios
Resina
Ok. Tenho a impressora, o material de limpeza e a cabine de cura. Posso comprar qualquer resina?
NÃO.
Quem já mexe com resina não pode usar o modelo convencional(mesmo aquelas de altíssima qualidade) numa impressora 3D. É necessário que seja uma resina própria para isso. Por sorte, há vários fabricantes nacionais dessas resinas e há diversos tipos para cada tipo de aplicação, desde aquelas rígidas comuns(usadas para a maioria dos trabalhos), até as emborrachadas (ideais para pneus e lagartas), passando pelas semi-rígidas. Além disso, certifique-se de usar uma resina que seja compatível com a tela da sua impressora. Vamos ver alguns fabricantes e tipos de resina nacionais:
3D Fila: esse fabricante possui filamentos para impressoras FDM e resinas para as STL. Há duas linhas principais, de acordo com a composição química(solúvel em álcool ou solúvel em água). As garrafas contêm 1000ml;
Quanton 3D: Uma das mais populares fabricantes de resina, a linha é bem mais variada, com resinas de se adequam ao tipo de finalidade específico( das mais rígidas até as mais flexíveis), atendendo modelistas, que for prototipadores e fãs de RPG/boardgame.
3D Lab: assim como a Quanton, a linha é bem diversa, abrangendo resinas para uso em hobby e odontológico. Dentre os modelos, há as flexíveis, rígidas e até pigmentos para as tingir. Cada resina tem um tempo de cura específico também, impactando no desempenho da impressão.
Smooth 3D: também com uma linha bem diversa, a Smooth tem o diferencial de ter uma linha especificamente voltada para modelismo(foto), além das tradicionais padrão(rígida), impact(alta rigidez estrutural), 4k(para alta definição), dentre outras.
Outras marcas existem, como por exemplo as das próprias fabricantes de impressoras(como a Elegoo e a Anycubic) e as de implementos dentais. Lembrando que sempre, que trocar a resina, é necessário reconfigurar o fatiador, que é nossa próxima seção.
Fatiador
O fatiador nada mais é que um programa que fará a tradução do arquivo 3D para um formato que a impressora entenda. É da responsabilidade do programa parametrizar a impressora para trabalhar com cada tipo de resina(já que elas são semelhantes, mas não são 100% idênticas).
O fatiador também é usado para escalar adequadamente a peça (você pode baixar um arquivo que represente um objeto em escala 1/56 e o redimensionar para 1/72 ou 1/35, por exemplo). Por último, mas não menos, importante, você pode adicionar suportes para as peças(explicarei mais à frente sobre os suportes).
Calibração da Resina
A primeira coisa a se fazer antes de imprimir o que a gente realmente quer, é imprimir o que a gente precisa. E precisamos estar certos de que a impressora está pronta para tratar a resina adequadamente.
Conforme dito anteriormente, resinas de diferentes fabricantes têm ingredientes e formulações diversas. Embora todas curem com luz UV, não podem ser tratadas necessariamente de forma monolítica. Pensando nisso, os fatiadores vêm com uma curiosa gama de configurações, contendo bibliotecas para várias impressoras, parâmetros de custo (para saber o quanto foi gasto naquela peça) e dados para configuração fina da impressora.
Só que a afinação é feita justamente com modelos de calibração específicos. Cada um deles mostra diferentes informações e podem ser baixados gratuitamente. Para saber mais sobre eles, sugiro que assista ao vídeo abaixo.
Ângulo
Nas impressoras de resina, o ângulo com o qual você imprime suas peças pode ter um efeito substancial no resultado. Mas por quê?
A impressora de resina, como já foi dito, tem uma mesa de impressão que se mexe verticalmente, num movimento de vai-e-vem. Funciona assim:
- O arquivo é dividido em camadas pelo fatiador;
- A impressora projeta a camada inicial numa tela LCD. Entre a mesa de impressão e a tela, há o fundo transparente do tanque(chamado de VAT) e, entre ambos, fica uma finíssima camada de resina que é solidificada sob o efeito da luz UV quando a tela projeta;
- A mesa se mexe para cima, a fim de que mais resina líquida escorra para dentro da área de impressão. A mesa desce, só que fica um pouco acima de onde estava antes;
- A nova camada é projetada e solidifica uma parte da resina;
- E assim vai, até o final do arquivo.
É notável que essas camadas podem ficar marcadas nas peças, através de “degraus”. Quanto mais complexa a peça e com mais linhas fluidas, mas fácil contornar/ignorar esse problema. Mas para os fãs de navios e de militarias, isso é bem mais sério.
Não darei aqui uma justificativa matemática para isso (pois não é o objetivo), mas existe um ângulo no qual você ajusta a peça no fatiador e o resultado é tal que os degraus desaparecem. Outra justificativa é de que você altera também a área de contato com a mesa, o que reduz muito o efeito de sucção(que por vezes faz a peça se soltar da mesa e ficar no tanque).
A equação que você deve se basear para definir o ângulo é: β=arctg((resolução vertical)/ (resolução horizontal))
Enquanto a resolução horizontal é uma informação que você encontra no manual de sua impressora, a resolução vertical (também conhecida como altura da camada) é configurada manualmente no fatiador. Lembrando que a precisão do modelo e o tempo de impressão são diretamente impactados pela altura da camada: um modelo com altura de camada de 0,05mm tem maior precisão que um modelo com altura de camada de 0,1mm. Mas o modelo com altura de 0,1 mm imprime mais rápido que o de 0,05mm. Então é uma questão de compromisso que cada um terá de assumir.
Vamos a um exemplo prático:
Resolução horizontal: RH=0,05mm
Resolução vertical: RV = 0,05mm
β=arctg(RV / RH) arctg(0,05/0,05) actg(1)
β=45⁰
Logo, ao girar a peça em 45 graus, conseguiremos eliminar os degraus.
E se quisermos mudar a resolução horizontal para 0,08mm para que a impressão saia mais velozmente?
Resolução horizontal: RH=0,08mm
Resolução vertical: RV = 0,05mm
Β’=arctg(RV‘/ RH) arctg(0,05/0,08) actg(0,625)
Β’=32,01⁰
Então, sempre que mexer na altura da camada, a angulação muda. Claro que um modelo pode ter uma geometria muito complexa, então cabe ao modelista escolher qual a face mais relevante de se manter precisa.
Acima, vemos a razão pela qual a inclinação influi: cada camada é depositada sucessivamente sobre a outra. A inclinação faz com que a deposição da camada posterior fique mais ou menos regular, de acordo com o ângulo. Quanto mais regular o espaçamento horizontal versus o espaçamento vertical, melhor. Nesse exemplo específico, o ângulo ideal para uma camada de 0,03mm de altura é 32,41⁰ de inclinação.
Furação
Certos modelos têm um volume interno alto. Para economizar resina, é possível os fazer parcial ou totalmente ocos. Mas, ainda assim, um problema nos resta: pode ficar um pouco de resina presa no interior da miniatura impressa.
Para evitar isso, os fatiadores podem inserir furos de drenagem e, melhor ainda, manter as tampas para que fechemos o modelo após o dreno. Não se engane: uma miniatura pequena pode aprisionar um volume substancial de resina em sem interior.
Resolução
Dissemos na parte de ângulo, que a resolução tem papel crucial em sua escolha. Mais que isso, uma impressora de resina existe para fazer peças muito detalhadas se comparada a uma de filamento de modo que uma resolução adequada faz toda a diferença: pouca resolução dá desempenho, mas cobra no resultado; já uma resolução altíssima(minha impressora chega a 0,0125mm de resolução vertical) aumenta dramaticamente o tempo de trabalho(e consigo, o consumo de energia).
Preenchimento
Qualquer miniatura de dimensões apreciáveis (especialmente navios, carros, blindados e aviões) costuma apresentar grandes volumes internos. Os modelos podem ser impressos maciços (gastando muito mais resina), com preenchimento regulável, ou ocos (máxima economia de material). No fatiador, é possível configurar, além do preenchimento e sua densidade(infill), a dimensão das paredes internas. Mas cuidado: paredes muito finas podem fazer o modelo colapsar sobre o próprio peso antes da cura ou se partir na impressão.
Regra geral, peças muito pequenas (canhões 1/72, por exemplo) devem ser impressas maciças. Um objeto maior(um StuG ou Jagpanzer IV na 1/72) já pode ser feito completamente oco, desde que tenha paredes suficientemente grossas(geralmente 1,2mm é o suficiente sem infill). Um caso intermediário seria um navio de guerra 1/700, pois ele nem tem volumes contínuos tão grandes quando as militarias e nem tem interior de volume desprezível como uma peça de artilharia. Nesse caso, o fatiador pode preencher a peça(chamado de infill) e até é possível configurar a densidade do preenchimento. Quanto mais denso, menor a necessidade de furos de dreno e espessura das paredes. Mesmo assim, de 1mm a 1,2mm costuma ser uma espessura mínima padrão pras peças.
Suportes
Como os modelos são muito complexos, é importante que algo os mantenha estáveis (até porque antes da cura UV, a resina está muito menos rígida, suscetível a empenos, torções e etc). Os fatiadores podem criar suportes para cada peça, dependendo do tamanho dela, das configurações dos suportes em si e da angulação. Com a experiência, você mesmo vai poder definir a necessidade ou não deles. A remoção desses suportes pode ser feita com um side-cutter, manualmente ou com uma serra de photo-etched.
Os bancos de modelos
“Mas eu não sei fazer nenhum modelo 3D! Essa impressora não me servirá de nada…” Muita calma nessa hora! Como em todas as comunidades, há muita informação gratuita disponível, incluindo bibliotecas vastíssimas de modelos que só precisam ser baixados, preparados e impressos. Vamos conhecer alguns desses repositórios.
Thingiverse: biblioteca gratuita com centenas de milhares de modelos prontos para impressão. São modelos *.stl que podem até ser editados(se você tiver conhecimento em CAD) ou jogados no fatiador diretamente. Há ferramentas, veículos diversos e toda sorte de modelos. Há até uma parte voltada à educação. Embora você possa se cadastrar para aumentar a funcionalidade da plataforma, você pode navegar e baixar os modelos livremente.
CADNAV: com uma quantidade substancial de modelos, o CADNAV é uma opção muito relevante para complementar o Thingiverse e tem a maioria esmagadora de seus modelos gratuitos para impressão. Um detalhe precisa ser levantado, entretanto: ao contrário do Thingiverse, aqui e em outros sites, o foco são os modelos 3D gerais. Não é porque um modelo é 3D que ele é feito necessariamente para impressora(tais itens podem ser utilizados para decoração em ambientes de realidade virtual, jogos e afins). Há muitos projetos em formatos *.max, *.3ds, *.fbx e *.obj. Tenha em mente que nem todos eles podem ser lidos pelo seu fatiador. Até onde se pode apurar, o download de tudo ali é gratuito, assim como no Thingiverse.
CG Trader: ainda que a navegabilidade não seja tão direta, o CGtrader é uma fonte interessante de material. Ao contrário dos anteriores, o CGT é uma loja de modelos 3D que tem também uma área gratuita. Os filtros permitem uma busca pormenorizada e o menu(no canto superior esquerdo, ao lado do nome) permite que se navegue por diferentes categorias. Obviamente, muitos modelos aqui são mais sofisticados, para justificar os preços que variam entre USD9,90 até USD499,95, conforme visto na página(com a cotação de 15/2, IOF e spread de 6%: R$54,76 e R$2762,90, respectivamente).
Cults3D: mais que uma loja de modelos, a Cult reúne também blog, comunidade e até uma galeria de impressos. Uma incrível fonte de inspiração, a C3D reúne modelos extremamente diversificados e de altíssimo nível, mas o sistema de busca deixa um pouco a desejar, tendo o visitante que fazer um bom trabalho braçal para caçar o que deseja.
Thangs: esse é o canivete suíço. Interligado a vários sites distintos, você usa a busca e ele lhe dará a resposta vinda em inúmeros outros sites de bibliotecas de modelos 3D. Ainda que seja muito mais fácil de usar e tenha acesso a uma base de dados autenticamente gigante(estima-se em torno de 8,3 milhões de modelos), nem todos os arquivos que ele retorna são gratuitos ou são passíveis de impressão direta, já que as respostas vêm de múltiplas fontes. Mesmo assim, pela facilidade de uso, o Thangs deve figurar nos favoritos de quem mexe com impressão 3D.
CAD
Particularmente, eu não acho que seja obrigatório saber os fundamentos de CAD (Desenho Assistido por Computador, em tradução literal). Mas se você souber o básico e tiver ferramentas à sua disposição, certamente isso fará uma diferença enorme na prática, pois não vamos tratar apenas de baixar, escalar, pôr suportes e imprimir. Agora é uma questão de fabricar as peças, segundo o que bem entendermos. Até mesmo é possível editar modelos prontos. Aqui é que o nosso leque vai se expandir além do nosso horizonte, pois voltamos à questão inicial do texto: “se um fabricante não lança certo objeto no mercado, com minha impressora, eu posso imprimi-lo na internet. Mas se esse modelo não existir ou estiver aquém do que eu desejo, então eu posso criá-lo!”.
Da mesma forma que podemos achar vários tipos e arquivos e licenças para os modelos 3D na internet, há vários programas dedicados à modelagem tridimensional em si. Citarei apenas alguns:
AutoCAD: quando aprendi a mexer na plataforma da Autodesk no SENAC, anos atrás, sinceramente numa imaginei o quão útil seria ter tais conhecimentos hoje. O AutoCAD é uma plataforma muito poderosa de desenho bi ou tridimensional, só que ela cobra isso em termos de equipamento, demandando um computador muito robusto, especialmente na fase de renderização (não muito necessária no nosso caso). Além disso, uma licença de AutoCAD do ano passado está saindo em torno de R$500,00. A desse ano sai a R$900,00.
Blender: ao contrário do AutoCAD, esse software é gratuito. A maior dificuldade é se adaptar ao leiaute que é bem diferente e achar uma versão anterior que pode ser instalado em versões passadas do Windows(as mais novas só rodam no Win10). No mais, é um bom aplicativo para criar objetos 3D, com o diferencial de ser muito usado também para esculpir peças(pra quem quiser se aventurar a esculpir figuras, fica a dica).
FreeCAD: como o próprio nome diz, é um aplicativo gratuito e o com a interface mais simples e direta(pelo menos para quem começou no AutoCAD). Com uma gama considerável de bibliotecas que podem ser baixadas diretamente no programa e que acrescentam funcionalidades interessantes, como desenho naval e furações/parafusos que obedecem padrão internacional, criação de seções de asa ou mesmo aplicações robóticas, ele vale a pena ser estudado com carinho.
São essas as únicas opções? Claro que não! Há alternativas para todos os bolsos, gostos e usos. Inclusive, muitos sites fazem comparativos entre tais softwares, e você pode tirar suas próprias conclusões, bastando alguns poucos minutos de pesquisa no Duckduckgo ou no Google.
Aprender a usar tais ferramentas também não é nada complicado, pois há cursos online para cada uma delas, sejam pagos ou gratuitos(muitos deles até em português).
Plantas& referências
Se você optou pela vida de CAD, o mais essencial é ter plantas acuradas do modelo que pretende reproduzir. Isso é a parte mais crucial da construção de um modelo 3D.
Esse é um dos problemas mais sérios que quem projeta em 3D é achar referências adequadas. Agora, você está vivendo os problemas que os fabricantes de kits têm, afinal, quem não se lembra do Dora 9 da Dragon que se inspirou num Frankenstein de museu ou o Me-109 da Eduard que chegou com parte de suas formas erradas e necessitou de um reprojeto completo?
Procure sempre estar atento para não errar seus projetos 3D. Ou para discernir um modelo bom para se imprimir, de um que não vale à pena(sim, há diversos por aí). Um exemplo interessante segue:
O modelo original serve como base para avaliarmos a adequação dos modelos 3D de acordo com o nosso uso. O da direita é muito mais simplificado, não sendo interessante para escalas acima de 1/160, já o da esquerda pode ser impresso e usado em escalas bem maiores, como a 1/24(desde que sua mesa de impressão seja suficientemente grande).
Mais um motivo pelo qual saber sobre edição 3D ajuda: pegar um modelo e melhorá-lo pode ser mais rápido que construir um do zero.
Scanner 3D
Formas complexas como carros, animais, figuras são muito difíceis de moldar/esculpir. Se você já tiver esse objeto, uma opção rápida é escaneá-lo. Há modelos para todos os tipos e todos os bolsos, desde que razoavelmente fundos (um modelo desses não sai por menos de 700 reais).
Certos itens têm formas muito complexas para serem criadas analiticamente, assim, uma rápida leitura no escâner resultará numa forma que o CAD poderá processar.
Considerações finais
Já ouvi de um tudo nesses poucos meses de impressão. Já vi e fiz muita bobagem. Aprendi muito e conheci muitas pessoas novas. E é muito legal você ter a possibilidade de produzir seus próprios modelos ou de pegar designs de terceiros e os imprimir.
Chevrolet M1008 1/72. A alternativa é a da obscura PJ Production belga por 14 euros(mais frete). Acervo pessoal
Como modelista, meu olho é bem crítico no que tange aos detalhes e vejo muita coisa que é apresentada como lebre, mas trata-se de gato. Carros e militarias são os menos confiáveis para se imprimir direto da web, geralmente pelo erro mais vistoso que existe: rodas, pneus e lagartas muito mal feitos. Idealmente criados para wargames e/ou escalas muito menores, como 1/100, 1/285 e afins, tais modelos demandam muitos upgrades para se chegar na 1/72 adequadamente. Escalas maiores então estão fora de cogitação, motivo pelo o qual volta-se a bater na tecla em aprender um mínimo de CAD para resolver essas pendências e dar mais liberdade de criação.
Nem tudo que reluz é ouro. Isso só seria passável numa escala abaixo de 1/100. Fonte: Thingiverse
Já ouvi até que a impressão 3D seria o fim do plastimodelismo. Realmente, não vejo razão nenhuma para que isso se confira por ora. Na verdade, é possível que a facilidade em se prototipar crie um exército de talentosos produtores e, com eles, surja toda uma nova geração de kits e upgrades. Um modelista dificilmente deixaria de comprar um kit para criar um modelo 3D ou baixa-lo (lembrando que muitos modelos na web são completamente imprecisos). Mesmo que se ache um modelo bacana, o processo de ajuste, calibração, fatiamento, impressão, limpeza e remoção dos suportes pode não ser muito trivial ou prazeroso, valendo apenas se a peça não existir no mercado e/ou for de difícil/dispendiosa aquisição.
Impressão e plastimodelismo andarão lado-a-lado nesse admirável mundo novo, complementando-se e expandindo os nossos horizontes.
Fragata Pr.1135 Burevestnik e pesqueiro St.Gilles, ambos 1/700
Rodas sólidas de T-34 na escala 1/72, modelos de 1940 até 1944: primeira incursão no mundo da modelagem 3D rendendo frutos!
Canhão antitanque soviético ZiS-2 57mm 1/72
Rapaz o conteúdo foi muito bem explicado, gostei muito da matéria, show parabéns, tirou demais minhas dúvidas, excelente
Parabéns pela matéria!!! Muito esclarecedora. Estava justamente com essas dúvidas pensando em me aventurar no 3D , mas sem saber que impressora usar.
.
Oi Marcio,
Obrigado por deixar seu comentário! Fico muito feliz em saber que a matéria foi útil!
Plastiabraço!
Excelente matéria com esclarecimento adequado para quem tem essa curiosidade neste momento. Parabéns Lucas por ter convidado o Fred para expor o que sabe sobre o assunto. A matéria ficou muito boa mesmo. Eu venho acompanhando essa onda e até já adquiri mesmo sem saber modelos de figuras comprados do Aliexpress, pensando ser de resina na forma antiga e na chegada notando tratar-se de impressão em 3D de excelente qualidade pelos detalhes.
O jeito é aguardarmos para ver quais caminhos irão se abrir ou fechar nesse nosso hobby.
Forte e Grande Abraço à todos!
Osmarjun
Wow! Que aula. Obrigado Lucas e Fred. Precisamos de mais conteúdo como esse para tomarmos nossas decisões.
Parabéns pela excelente matéria, Lucas e Fred.
Bom saber que já esta sendo explorada a impressão 3D em nosso país, principalmente na área do modelismo. Infelizmente o que inviabilizará maior disseminação dos ítens fabricados neste processo, será o custo. Aliás como todo modelismo anda devagar com seus preços elevados.
Abraços!
Grande Lucas!!!
Cara que matéria é essa!!! É uma aula!!! Muito bem escrita e rica em pesquisa e detalhes!! Parabéns!!!
Acho fantástico como evoluiu a impressão 3D, principalmente no que diz respeito aos acessórios para o plasti. Mas acho que vai demorar para que um kit seja feito totalmente em 3D e que o valor de venda seja igual ou inferior aos injetados de hoje.
É claro que todo o processo para criação de um modelo injetado começando do projeto até a injeção, tenha um tempo e investimento muito maiores do que feito em 3D, mas com uma tiragem maior que acaba impactando no valor do kit, e fazendo com que o mesmo custe menos do que se fosse feito em 3D.
Plastiabraço!!!
O que estamos vendo, nesse momento, é a absorção da tecnologia 3D pelos fabricantes de kits,. como é o caso da Dragon chinesa, que está lançando um monte de kits com peças impressas em adição às injetadas.
Excelente artigo, Lucas e Fred. Parabéns.
Eu também sou um entusiasta da impressão 3D. Só adicionaria um ponto: os serviços de impressão para aqueles que não querem se dar ao trabalho de imprimir eles mesmos. Existem várias opções e apesar de serem bem carinhos, as vezes a comodidade vale a pena. Imprimir em casa com impressora de resina tem suas complicações (cheiro da resina, tudo que toca a resina não-curada fica melado, tem gente que sofre alergia, etc). Sem falar nas frustrações casa vez que alguma coisa dá errado. Eu ainda apanho bastante da minha impressora (tenho uma Anycubic Photon), mas uso os serviços da Shapeways há 12 anos. Os preços subiram bastante nós últimos 2 anos, mas ainda sim considero uma alternativa interessante.
https://www.shapeways.com/shops/smallscaleshop
.
Oi Glehn!
Grande verdade! acabou faltando citar esses serviços mesmo.
Um grande plastiabraço!
Excelente matéria. Já tinha ido no ateliê que trabalha com 3D e no momento ainda não é para mim. Creio que se ocorrer, a substituição do plastico injetado pelo 3D ainda levará muito tempo.
A explosão de fabricantes chineses de kits de altíssima qualidade e baixo preço (é caro no brasil por conta do dolar e do frete….) mostra que o plasti segue muito vivo.
Espero que seja bastante útil aos modelistas e curiosos de plantão!
.
Tenho certeza que será Fred!